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transgredir… O computador insiste em colocar a maiúscula… e eu fico suspenso na minha mania de hoje querer as palavras democráticas, numa tentativa, quem sabe, de engenharia social vocabular em cada linha uma luta, e em resiliência avanço com palavras iguais por si, sem nada que as distinga a não ser o seu valor intrínseco, sem qualquer convenção… todas iguais Mas o computador insiste e a cada linha tenta colocar a ordem que eu, só hoje, desdenho sentado, observo que os que passam são também palavras, todas diferentes é certo, mas iguais em valor, quero crer. a nenhum dei maiúscula, insígnia ou valor aí o computador seria mais democrático, pois na sua cegueira maquinal, estivesse quem estivesse no início de linha, teria sempre a maiúscula sem ver caras, corações, contas bancárias ou mesmo títulos mas a máquina não dita regras… há mão escondida nisto, sei-o, e resoluto enfrento-a indeciso se o que vejo é moinho de vento ou gigante pouco me interessa se sou fora do tempo se perdi pelo ca

Fotografia

E tu frágil me acercas, E é a mim que vejo uns passos à frente. E digo-te como se dissesse a mim próprio que há que lembrar, há que saber... Mas tu não sabes, já não sabes... E eu também não saberei. Caminhemos juntos mais um pouco... a nossa sombra é igual, e cada um no seu esquecimento, presente e futuro, e tiremos uma fotografia juntos:  um para não esquecer e o outro para recordar.

Voo em outubro (paradoxo)

Hoje vi-te. Segui o teu voo por breves segundos. Três segundo apenas. Três segundos de um voo alegre e leve. Acho que estavas feliz… só podias estar feliz! Voavas! Desenhaste letras indecifráveis no ar, e eu, nesses poucos segundos, senti inveja da forma como vencias o ar, como corrias sem te sujares de pó, como percorrias leve sem deixar marcas ou pegadas. Como poderia não sentir inveja? Eu, que me arrasto, pesado, por caminhos feitos Alguma coisa me terá distraído … porventura eu próprio, mergulhado nestes pensamentos tristes. Ter-me-ei lembrado da crueldade dos dias que passam, Incessantes … arrasto que tudo leva à sua passagem. Cruel. Incessantemente cruel. Compasso certo, forte e eficaz… inevitável! Trouxeram-te de volta aos meus olhos, e tu, ainda feliz (deduzo), Inconsciente destes meus murmúrios,  desenhavas de novo letras no ar. O vento fresco no rosto tornou-te paradoxo de ti própria.  Esse teu voo fresco Não deveria ter lugar em outubro.  Deverias estar numa outra primavera

caminho

em cada caminho, uma escolha sem reservas resta olhar em frente de quem sabe o destino que quer. sem remorsos sem passos em falso apenas a luz daquele sonho que vislumbro ao longe que me incomoda e me faz lutar. quero essa luz quero esse vislumbre quero esse horizonte longínquo do mar que me inebria. mesmo estando, já parti jcs / 2019

E se me deixo levar

E se me deixo levar, Ondulante e leve, Ao som que seduz, Sou eu que não querendo quero Esse Inevitável abismo, Que sempre procuro E me liberta do peso De cada dia que passo Agrilhoado, escravo, Refém dos dias e desta Vontade sempre pouco lúcida Que em sombras me acerca de ir arrastado pelo vento que sopra novo. Quero o vislumbre do céu azul, Uma nesga que tudo permita sonhar e Que traga, nesta escuridão em que me encontro, a cor nítida de um ar fresco. Mas, a esta hora já não há luz, A noite cerrada envolve-me No seu agasalho gélido e mudo, e me embala. Shantih shantih shanti Jcs 2019

Poema em três atos

Poema em três atos Ato 1 Eu, poema,  desfiz-me no ácido dos dias e  tornei-me útil,  pronto a vestir de uma dor qualquer, Bocejo rápido,  contagiante como todos,  e terrivelmente banal,  de uso mezinha,  prescrição de vão de escada,  que por servir para tudo,  não serve para nada. Ato 2 Eu, poema,  pensei ser flor neste mundo cru,  o lírio branco  que enfrenta a noite sôfrega que o envolve,  aquela pequena luz bruxuleante  que Sena anuncia nas diferentes línguas,  (como se fosse por falta de entendimento  que nos tornamos pedras.) Ato 3 Eu, poema,  já  na efervescência final  que me come as aparas  e me rói os ossos,  submeto-me, sem aplausos,  ao fechar de panos  e ao inevitável silêncio. Aqui já não há “encore”. (C) João Cunha Silva 

Ode ab initio

Ode ab initio Em cada regresso, um recomeço Em cada regresso, reconstruir. Em cada regresso, erguer peça a peça Como se fosse a primeira vez. Em cada regresso, votar ao início. Aqui não há lamento de Sísifo; Só por saber que muito vou repetir Só por saber tudo o que vou refazer. Só já tenho a vontade Do novo maravilhoso que Me dilata as pupilas e faz o Sangue correr mais rápido.

Suave melancolia

Suave melancolia Que me leva os dias E me traz ondas onde nasço e logo morro. Suave melancolia Porque nada dura, apenas a espuma fica, brilhante, porém efémera, que logo de desfaz e de novo nasço e morro na cadência certa, tormentosa e cruel. Suave melancolia Em que desenho o som do mar na areia virgem. jCS/2018

E o poema?

E o poema? E o poema, desabafo? Grito, confissão ou pedido? Mero diz por dizer, quem sabe? Nada sério ou concreto, é certo! Ou um derradeiro decreto! E o poema, súplica? É para ti? Ou apenas verbo de mim? Palavras clamando por outras, Um grito escondido à espreita, Que ninguém suspeita. E o poema, enigma? Palavras entrincheiradas No socalco da linha Onde, entre muros se escondem significados sombrios e escuros. E o poema, luz? Que liberta da mais cerrada treva Que alenta e desperta Que acorda e que rega A planta que jaz morta. E o poema, trilho!

Ser sem ser

Ser sem ser Sei que tudo tem o seu tempo, e que barrar o rio, é apenas querer parar o que é inevitável (constatação fraca, ilusão apenas) Qual o mal disso? Um instante, um breve momento... Haverá mal em pensar ser mais, ir mais longe, fazer um pouco mais... nem que seja por instante, apenas ousar peça que não encaixa como este verso Sei que não sou luz, sou caverna com uma luz ao fundo, que insiste em não se apagar, trémula, inconstante, quase sempre fraca, mas por momentos intensa e ofuscante. (ilusão apenas) jcs/01-2018